Estava
pensando em um texto para retomar as atividades desse blog. Sobre o que escrever?
Lembro de quando escolhemos o título deste site -- e como foi difícil escolher -- que tinha por finalidade expor um sentimento mútuo. Enfim tínhamos chegado
a um: falanges canibais. Falanges que devoram a caneta ou o lápis, ou as
palavras.
Eu tinha
naquele tempo a sensação que poderia escrever sobre quaisquer coisas, a
sensação de carregar no olho aquela sensibilidade para com o cotidiano.
Transformar asfalto em linhas, pés em palavras, pessoas em contos, a rua em uma
história. O que é contar uma história? O que é escrever sensivelmente sobre o
perceptível? Ingenuamente pensei que era traduzir em palavras aquilo que era
posto em imagens, em palavras que não possuíam o teor de descrição é claro, mas
ainda assim traduziriam.
Não era isso.
Falanges
canibais... vejo que não é à toa que concordei com o nome. Canibal é uma
palavra cruel, fala daquilo que se alimenta da própria substancia. Insetos que
comem insetos, animais que comem animais, humanos que comem humanos. As
falanges só comeriam o lápis, o papel, ou as palavras, se encontram lá em abundancia
a própria substancia, a própria carne.
De todo o escrito só me agrada aquilo que uma pessoa
escreveu com o seu sangue. Escreve com sangue e aprenderás que o sangue é espírito.
(Zaratustra)
Aí está a
dificuldade de escrever com tais falanges. Com elas se abre a carne e ainda
mostra seu sangue. Nem todo sangue que sairá é daquele vermelho forte, daqueles
que alguns vestem em roupas, dirigem em carros ou beijam em bocas. Há o risco
de usar o sangue para escrever e as palavras saírem azuis, pretas; pastosas ou
finas demais. Há o risco de não ter sangue, de ficar entupido nas veias, ou
sangue demais a rasgar o papel.